Estima-se que 16% das crianças no país possuam essa condição que, se não acompanhada e tratada adequadamente, pode originar adultos com crises de ansiedade e até condutas transgressoras, incorrendo a crimes e delitos como consequência dessa descompensação comportamental.
Especialista em psicopedagoga e mestre em distúrbios do desenvolvimento, Luciana Brites, que também é CEO do Instituto NeuroSabe, esclarece que a principal diferença entre o TOD e a birra está no padrão persistente do comportamento desafiador, caracterizado por perdurar e causar prejuízos significativos por mais de 6 meses.
— A birra desaparece com o tempo, já o TOD prejudica todo o desenvolvimento infantil, o sono e a socialização do pequeno — esclarece.
Os sintomas ficam mais evidentes após os 3 ou 4 anos. São características comuns e frequentes na vida das crianças TOD: discutir excessivamente com adultos; desafiar ou se recusar a obedecer a solicitações ou regras de adultos; perturbar as pessoas de forma deliberada; culpar os outros por seus erros ou mau comportamento; mostrar-se suscetível ou se aborrecer com facilidade; estar sempre ressentido; ser rancoroso e vingativo; brigar e xingar os colegas; não aceitar ideias de outras pessoas; chorar sem motivos e não aceitar amparo.
Escola: ambiente desafiador
Os meninos tendem a ser mais agressivos e explosivos. Já as meninas mentem com frequência e se recusam a cooperar. Brites explica que a criança com TOD possui menos neurotransmissores e, assim, uma baixa tolerância a frustrações. O que faz com que ela abra, facilmente, a mão de coisas prazerosas de tanta fixação que possui pela oposição.
— Essa criança pode desenvolver o que chamamos de transtorno de conduta, e se transformar em um jovem envolvido com a criminalidade e a psicopatia, por exemplo — alerta Luciana Brites.
Enfermeiro e supervisor de uma equipe de Cuidadores de Alunos com Deficiência (CADs) da Conviva Serviços, Emichael Franco diz que os sintomas são, geralmente, notados na fase escolar.
— A escola é um ambiente de socialização desafiador e a criança com TOD não gosta de ser desafiada. É preciso preparo de toda a equipe para lidar de forma assertiva. É preciso que o cuidador tenha paciência e mantenha a postura de autoridade, mas buscando entrar no universo da criança para conseguir mudar o foco dela — ensina ele.
Compreensão e acolhimento: palavras-chave
O diagnóstico é feito por médicos neuropediatras ou psiquiatras e o tratamento indicado, por norma, conta com apoio de medicamentos e terapia cognitivo-comportamental.
— A causa do TOD varia e pode ser provocada por fatores genéticos ou de ambiente, como a falta de limite na fase de desenvolvimento da criança. Isso porque 95% do cérebro humano é estruturado até os 6 anos, depois, ele só amadurece Se a criança se acostuma com altos níveis de dopamina, ela não conseguirá receber bem um não — observa Brites.
Compreensão e acolhimento são palavras-chave no trato de indivíduos com TOD, ensina a psicóloga Roberta Ribeiro Pinto, especialista em neuropsicologia.
— Não se deve levar para o lado pessoal qualquer situação que pareça crueldade ou vingança vinda de uma criança com TOD. O comportamento é um pedido de socorro de alguém que não consegue lidar com as emoções.