O produtor rural José Augusto Azevedo decidiu investir em segurança no campo após ser alvo de bandidos. Ele tem uma fazenda em Goiás e outra na região de Ribeirão Preto. Hoje, as propriedades contam com sistemas inteligentes para evitar furtos.
“Já fui vítima várias vezes e na maioria delas, a polícia não consegue solucionar o problema, justamente porque ela não tem elementos que contribuem com a investigação. Agora, com as câmeras que eu coloquei nas fazendas, eu consigo detectar a placa de um carro que passa, consigo monitorar qualquer coisa diferente. Hoje eu busco a tecnologia para me prevenir”, diz o agricultor.
Nesta semana, Azevedo visitou a Agrishow, a maior feira de tecnologia para o agronegócio do país, em Ribeirão Preto (SP), em busca de outras possibilidades para aumentar a segurança nas duas propriedades. “A gente nunca acha que vai acontecer com a gente. Agora estou instalando também a câmera com inteligência artificial”, afirma.
Defensivos agrícolas, máquinas e implementos são os alvos preferenciais de quadrilhas que atuam na zona rural por causa do alto custo de mercado. Em abril deste ano, a Polícia Civil de Jaborandi (SP) prendeu sete pessoas durante uma operação para desarticular um grupo envolvido em um roubo de cerca de R$ 300 mil em defensivos agrícolas.
Em 2022, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo registrou 125 roubos de cargas na região de Ribeirão Preto e Franca, crime que muitas vezes envolve a produção que sai de fazendas.
Diretor da Passalacqua Tech, Samuel Passalacqua Filho explica que proteger a área e os maquinários com equipamentos de segurança é bem mais barato e vantajoso do que assumir o risco de ter um trator roubado, que geralmente custa muito caro, por exemplo.
“Quando o bandido olha e vê que a área está cercada com tecnologia, ele vai evitar cometer o crime ali, vai partir para algum outro lugar que não tenha segurança”, diz Samuel.
Entre as soluções inovadoras apresentadas na feira, a empresa apresenta o Defense, um sistema que utiliza a inteligência artificial para que o produtor rural consiga monitorar toda a área e receba alertas quando algo está fora do que é considerado “normal” para ele.
“Através de câmeras instaladas numa área em que estejam armazenados os defensivos agrícolas, por exemplo, o agricultor cria regras que ficam armazenadas nessa inteligência, ou seja, se ele informar que naquele local só vão entrar pessoas vestidas de branco, se aparecer alguém com outra cor de roupa, o sistema emite um alerta para que a pessoa que esteja fazendo o monitoramento já tenha atenção voltada exatamente para aquele local. Então não é preciso que tenha alguém olhando as câmeras toda hora. A inteligência artificial desse sistema facilita isso”, explica Samuel Filho.
Customização
Um dos clientes que procurou a empresa durante a feira relatou furtos de motor de pivô, equipamento usado para irrigar lavouras e que geralmente não fica em áreas de fácil acesso.
“Estamos montando, por exemplo, um projeto para monitorar onde está o centro do pivô, do motor. Se alguém passar naquele perímetro, o sistema já manda para a ronda para atuar sobre essa pessoa.”
A tecnologia de segurança no campo, segundo Passalacqua, consiste em entender o problema para que um projeto seja desenvolvido e ajude o produtor a evitar prejuízos. Em 90% deles, há o uso de inteligência artificial, porque eles somam câmeras, automação e percepção.
Os sistemas normalmente aplicados em casas na cidade são aplicáveis nas propriedades rurais, só que em grandes proporções e com longo alcance.
Uma das adaptações é que ao invés de cabos de energia passados no meio das plantações, o que exigiria alto investimento, os equipamentos de monitoramento funcionam com placas solares e baterias.
“A comunicação é feita via rádio com a sede da fazenda, instalamos as antenas, e em tempo real. Os alertas são enviados ao celular do produtor rural, por exemplo, por e-mail, mensagem de texto ou por aplicativo. As informações podem ser salvas em nuvem ou em um servidor instalado na fazenda. Os custos têm caído. Você não tem gasto de energia.”
Veículos monitorados
Da mesma forma com que se preocupam com os produtos, os produtores também se preocupam com a própria segurança e de quem trabalha nas fazendas. É possível, segundo Samuel Filho, a implantação de um sistema de câmeras veiculares.
“Nós temos clientes que têm câmera veicular para serem acompanhados pela equipe de segurança deles desde a saída da fazenda até suas casas, o mesmo acontece também para as frotas dessa fazenda, que através do aplicativo é possível saber onde está o trator, o que ele está fazendo, consegue também monitorar o operador da máquina, tudo isso funciona com um módulo 5G que é instalado no caminhão com um chip de celular comum”, explica o diretor.
Outra tecnologia muito buscada é o uso de tags nos veículos para abertura de porteiras. Com isso, apenas veículos cadastrados conseguem ter acesso às propriedades, evitando invasões, por exemplo. Câmeras que fazem leitura de placas também são aliadas nesse sentido.
Prevenção de incêndio
A região de Ribeirão Preto está inserida na maior zona produtora de cana-de-açúcar do país, responsável por 63,7% da safra, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Entre os problemas na lavoura, estão o risco de queimadas nos períodos de estiagem.
Samuel Filho diz que as câmeras disponíveis hoje no mercado conseguem identificar focos de incêndio no momento em que eles surgem, mesmo a longas distâncias.
“Queimada, por exemplo, se começar uma queimada numa região, pode destruir uma plantação inteira. Hoje conseguimos trabalhar com câmeras que pegam o começo de incêndios a grandes distâncias. Então o agricultor consegue atuar desde o início do incêndio, assim ele evita que toda a área seja tomada pelo fogo. São câmeras com 60 vezes zoom, que giram 360 graus. Você já deixa um preset nela com a necessidade que importa.”
Créditos: G1